Amores incoesos

Eu determinei,

naquela terça-feira das dores,

que você nunca mais entraria aqui.

Minha casa nunca mais seria

seu lar.

Você foi a primeira pessoa

que remexeu meu guarda-roupa

de mágoas e resilientes idas e vindas

com os punhos de uma pantera,

dobrou as roupas sujas

e as devolveu de volta nas minhas gavetas.

Encheu a lava-louças com

meus sorrisos daquela noite,

tirou-lhes a sujeira e arrancou,

com esponja e detergente,

suas melhores características.

O vaso de flores que

eu coloco na minha escrivaninha

murchou porque você

esqueceu de dar-lhe água.

Morreu de sede como eu.

Quando você tomou meu próprio corpo

como sua casa própria,

eu nunca mais pude

achar as chaves novamente.

Estou presa do lado de fora,

mas cansei de esperar.

Quero entrar.