Boemia

O bêbado falava ao pássaro sóbrio

sobre a necessidade humana

de comer pássaro regado a gim.

O pássaro sóbrio replicou ao bêbado

da necessidade humana

de ouvir jazz e comer brócolis.

O dono do boteco, flanela à mão,

não era sóbrio, nem era bêbado,

ouvia a conversa sem dar atenção;

tirou do bolso um saxofone de ouro

e encostou no extremo do balcão.

O barman trajando vermelho e preto

Disse não ser homem nem pássaro,

tilintou um chaveiro do Vasco da Gama

pendurado no abridor de garrafas.

O pássaro sóbrio e o bêbado

divergiram se era o sax de Miles Davis

ou o sopro de um anjo descido do Céu

tocando My Funny Valentini

no saxofone no extremo do balcão,

onde se encontrava um cão vagabundo

lambendo a boca de um bêbado no chão.