O rio (republicação)

Publicada em 01/04/16, sob impacto da tragédia de Mariana. Infelizmente atual.

O rio

Quanto será que valem, no vale-tudo da vida, as vidas subtraidas?

Soterradas na lama das consciências corrompidas.

Afogadas nas águas barrentas, barradas por barragens partidas.

Quanto será que vale,

a memória interrompida?

Das histórias que meu avô contava;

Meu pai, cúmplice, assentia;

Eu, moleque, zombava...

Para meu filho, que inda não há,

o rio não existirá.

Qual Cosme e Damião às avessas,

o rio, ao doce, escondia.

Qual a Atlândida de outras crenças,

na lama, submergia.

Matam o homem,

matam a mata,

a esperança e a economia.

A justiça a pauladas.

A sede, a fome, o frio!

Mas já se viu em outras paradas,

que alguém matasse um rio?

Já se viu, em outras tragédias,

o vilão que sentencia?

Já se viu de outras vítimas,

que defendam a vilania?

Indiferente persiste, o rio de Nagazaki.

Em seu fúnebre cortejo,

que é para nós, qual realejo.

Cuja sorte diz "tic-tac"...

Fonseca da Rocha
Enviado por Fonseca da Rocha em 26/01/2019
Código do texto: T6560140
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