Não peço que temas
Não peço que temas.
Eu ainda respiro sal
quando me encontro
de frente ao mar e
meu hálito é feito terra.
Ainda sou areia
e afundo os pés dos outros.
Não tenho pressa mas
sou prece e prevejo o mundo.
Adiante, o caos se espreita.
Eu conto estrelas e corto flores,
eu vivo vidas e escrevo mundos.
Pois me partiram muito antes de
respirar água salgada
e chuva da manhã.
Já fui rosa sem espinho beirando a morte.
Sou promessa
feito semente.
Plantaram-me depois de regar
e esqueceram o adubo. Mas resisto,
pois, diante do mundo, cresço.
Tu não deverias temer minhas raízes.
Tens raízes tão belas quanto,
tão fortes quanto,
tão prometidas quanto.
Não peço que temas.
Sê delírio antes de ser
o medo que corrompe os loucos.
Quando nossa liberdade for
tão grande ao ponto de
batermos as nossas asas
sem ferir ninguém,
saberemos que os loucos
comeram temor antes de
enlouquecer.
O delírio teria os salvado.
O mar me salva todo dia.
Sou semente crescendo.
Ainda irei germinar.