Cegueira

Eu vi, sim, o raio do sol

entrar pela janela semicerrada.

Mesmo com os olhos fechados,

pois que a pele toda

já estava pronta.

Eu vi, sim, as verdades e as mentiras

na tua retina.

Ainda que com olhos de desespero

por não saber discernir

entre uma e outra...

Até o amanhã eu vi

com meus olhos habituais de fé.

Mas nem mesmo eles,

por mais abertos e atentos,

acreditaram na imagem projetada.

E foi então,

num vislumbre de realidade,

que eu deixei de ver:

cegou-me o brilho excessivo

de um futuro imaginário.

E agora só consigo enxergar

nossas imagens num retrovisor.

Para a frente,

de hoje em diante,

apenas o carinho de um cão guia.