Língua Ferina
Meus detratores dirão
Que eu não presto
Nem nunca prestei
Que menti
Que errei
Que sou sobra
Que sou resto
Mas, juro, desminto e atesto
E farei entender
Quando eu morrer
De fome, raiva ou maleita
Se acabará a despeita
Que nasce do fato de eu ser
O contrário disso tudo
Ou muito além do que se quer
Pois quando der ou quiser
Eu transformo em absurdo
Saio calado, entro mudo
Faço poemas malditos
Falo do cosmos e da noite
E eis que tomo como açoite
No lombo exposto à sorte
A inveja da língua ferina
Mas, hei de entregar a menina
Do coração mais puro
Meu amor inseguro
Nas mãos, de bandeja
Ou ainda na tigela
Com um tiquinho de açaí
Eu não sou como esses daí
Que vivem em cima do muro
Sou dos que vieram do passado
Mas, estou além do futuro.