As imagens postadas de paisagens urbanas
dissimulam, ocultam, disfarçam a realidade
Sob viadutos
a paisagem é bem outra
rachaduras, hera medra,água entornando,
entulhos descartados, samambaias brotando,
Sob viadutos
classificados que anunciam
palavras de ordem, desordens
cartomantes, quiromantes
vagas em pensão, garotas de progama
pais de santo e amarrações amorosas
procura-se um marido, cão desaperecido.
Nas pichações estampadas em spray
nome do político, seu perfil analítico,
sigla do partido, um coração partido,
Lula preso,Lula livre, recados do PCC,
fora Temer, fora Covas, fora Dória.
Na viga do meio, quase ilegivel,
fora FHC, fora Dilma, morra Sarney
Sob viadutos
travestis abordando, viciados achacando, 
cheiro forte de urina, sirenes, buzinas,
revolver na cabeça, gritos de socorro,
bandido no pinote, polícia enquadrando
despacho num canto, mendigos no outro,
traficantes na espreita, craqueiros hibernando.
Sob viadutos
não há cenário colorido, retrato preto e branco,
realidade estampada, sob concreto e aço,
indubitavelmente incolor da vida como ela é.