ANTIDIÁRIOS

II

Os dias passam como o tempo no corpo

e aram os sulcos no solo estéril e amorfo

da minha pele grande e de alma pequena,

feito se a vida fosse um inexistente poema.

Tudo mora na mentira entrelaçada dessa sina

de bravatas e conquistas moídas na anfetamina

do meu verso inútil e na força reversa dessa rima

radioativa (a gênese da falsa Rosa de Hiroshima).

Sou poeta comum de dois. Malandro de navalha

sem gume e grudada na alfaia opaca da palavra.

Sou nada, raso, um espírito fraco que não renuncia

aos escombros do ouro de tolo escondido da poesia.

Preciso espalhar mil estilhaços para me sentir inteiro…

Tenho de afundar o barco. E me livrar de mim mesmo.

Marlos Degani
Enviado por Marlos Degani em 04/03/2019
Código do texto: T6589517
Classificação de conteúdo: seguro