ANTIDIÁRIOS
II
Os dias passam como o tempo no corpo
e aram os sulcos no solo estéril e amorfo
da minha pele grande e de alma pequena,
feito se a vida fosse um inexistente poema.
Tudo mora na mentira entrelaçada dessa sina
de bravatas e conquistas moídas na anfetamina
do meu verso inútil e na força reversa dessa rima
radioativa (a gênese da falsa Rosa de Hiroshima).
Sou poeta comum de dois. Malandro de navalha
sem gume e grudada na alfaia opaca da palavra.
Sou nada, raso, um espírito fraco que não renuncia
aos escombros do ouro de tolo escondido da poesia.
Preciso espalhar mil estilhaços para me sentir inteiro…
Tenho de afundar o barco. E me livrar de mim mesmo.