ANTIDIÁRIOS

Entre. Abra o verso. E viva a bipolar experiência

de morrer-se nesta vida, sempre, atrás do poema.

Sente. E de uma hora rápida para a outra, perceba

que ser poeta não prescinde de nenhum esquema,

nem ler e nem escrever. Poeta é somente um emblema

do nada. Um bobo com palavras. Uma nuvem modorrenta.

Trafego no oceano desta tarde. Na sombra do problema.

Imagino um canto. Dois. E tremo no plasma a penitência

camuflada da minha frágil estrutura que não se aguenta…

Vou e volto ao mesmo lugar da varanda. Imploro um vento

gélido sobre a espinha trincada. Reviro todos os unguentos

da caixa de sapatos, mas nem um serve agora, no momento

onde os miolos cegos movem-se no nervo do firmamento.

O rum lá da encosta abriu. E é só dele o meu pensamento.

Marlos Degani
Enviado por Marlos Degani em 06/03/2019
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