ANTIDIÁRIOS
Entre. Abra o verso. E viva a bipolar experiência
de morrer-se nesta vida, sempre, atrás do poema.
Sente. E de uma hora rápida para a outra, perceba
que ser poeta não prescinde de nenhum esquema,
nem ler e nem escrever. Poeta é somente um emblema
do nada. Um bobo com palavras. Uma nuvem modorrenta.
Trafego no oceano desta tarde. Na sombra do problema.
Imagino um canto. Dois. E tremo no plasma a penitência
camuflada da minha frágil estrutura que não se aguenta…
Vou e volto ao mesmo lugar da varanda. Imploro um vento
gélido sobre a espinha trincada. Reviro todos os unguentos
da caixa de sapatos, mas nem um serve agora, no momento
onde os miolos cegos movem-se no nervo do firmamento.
O rum lá da encosta abriu. E é só dele o meu pensamento.