Papo de estômago
Escrever poesia pra dentro é muito mais fácil
que fazê-la pra fora.
Aí fora todos vocês O lêem, é inevitável
o circo de gestos, seu teatro, mímica, ruídos,
simulação, mentiras e atos falhos.
A imagem luminosa é retida em poses,
ainda que se transforme em poesia viva
que se desloca e instala-se no papel.
Aqui dentro a leitura é ulterior.
A caligrafia de seu corpo é poesia acriançada escura.
Não existem imagens, só a suposição imaginativa interior.
Vejo vermelho em todo canto,
diferente de seu ser moreno fraco fortalecido.
Como posso ver vermelho sem vela ou lanterna?
Cérebro de estômago é criativo e ácido!
Eis alí seus pulmões acolchoados de ar e ocos do mar
que ele tanto busca.
Eis cá abaixo seu intestino que cobra pedágio indevidamente
e tem evacuado em raros blocos pequenos revoltados com o preço.
Eis-me “neste” ou “nisto” – estômago - ansioso e ferido do medo.
Cheio deste cara e de gases poluídos de efeito estufa!
Eis acima seu coração de Jerico do nordeste:
órgão de repente improvisado,
de saudade lírica e lamentação.
Vive lendo e recitando letras de tormento
como burro velho estafado lendo chão.
André, um Jerico
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