CORRENTEZAS

“E sei que tua correnteza não tem direção.”

Renato Russo

Você não faz a menor ideia da trilha sonora

e da melodia dos uivos (o dialeto do agora)

dos mil sonhos que transformei em cinema,

cena dentro da imagem; imagem feito poema.

Não economizei nos detalhes mais sórdidos…

Raspei toda a lama do fundo do meu poço fundo

e ouvi os seus urros apavorados (quase sujos)

e o imperativo da sua voz tremida do sal do suor

quando descia por suas veias intumescidas, roxas,

que pareciam explodir até ao meio das suas coxas

permissivas, entreabertas e a rosa preta do espaço

a consumir a matéria dos meus versos aficionados

nessas curvas as quais os deuses esculpiram na cera.

Não tive as carnes e nem a poesia. Só as correntezas.