O Pêndulo

Viver é um sonho de esperança...

Sacerdotes buscam a bem-aventurança

Enquanto outros, apenas bem viver...

Todos, enfim, temendo sofrer...

Mas a dor, subvertendo sua origem, o prazer,

A todos toca, soberana, sorrindo a trazer

Nas mãos o lenitivo: um choro aflitivo,

O remorso corroente e o pranto clemente...

O pêndulo viaja e na contradição repousa...

Onde descansa, passara em violenta emoção...

Uvas verdes, a picardia da raposa,

Sempre a dor... no viver... na evolução...

Anjo negro, abençoada maldição, cruenta forja!

O homem finge tentando fugir: a verdade forja...

Eis aí novamente a dor que dormitava apenas

Na consciência qual virtude amena, obscena...

Pequenos irmãos, devoro-os em afã, com prazer!

Acalanto-lhes o sonho em um afago mentiroso

Escolhendo-os com frieza, pelo porte, pela beleza,

Arranco-lhes as vísceras para tê-las à mesa...

Devoro meus pequenos irmãos! Devoro-os!!!

E os Anjos do Senhor? Poderia eu dizer, adoro-os!?

E as lições do Galileu? Poderia eu mentir, sigo-as!?

Que espero de Deus, senão a dor, senão o adeus!?

Marco Aurélio Leite da Silva
Enviado por Marco Aurélio Leite da Silva em 20/09/2007
Reeditado em 23/01/2008
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