Não se estanca o que está seco

Podia ter notado

As gotas de sangue

Na porta ao lado

Já secas

Devido ao sol quente do dia todo

Mas o olhar foi ligeiro

Como quase sempre é.

Não se repara na vala

Entre o trem

E o passageiro

No que estar e

O que escorre o dia inteiro

Indo gota a gota e

Pelo andar do ponteiro

A hora já acaba agora

E os minutos antes

Não servem .

Chega se ao ponto

De remontar uma cena,

A mesma ,

E de se fazer pequena

Pra caber nela

Como que com

Varinha de magia

Renovaria tudo

De volta ao mesmo segundo

Afim de aperfeiçoar.

Mas nada que se faz

Vale ao que já foi

Nem o silêncio

Nem os passos lentos ou apressados

Porque a gente caminha

E sempre que a gente sai do lugar

A gente perde

A gente vai perder o tato

E nada poderá servir

Pra segurar

A barra de ferro que cai

Machuca e revolta

E ainda que com grito

Não se pode evitar o acidente.

A gota de sangue seca

Na porta

Não importa

Não precisa entender

O estado de cegueira

Não crônico

Mas de costume

Não se cura com cartaz

Se a dor não for compartilhada

Se não chegar até o outro

Sentindo o rasgar do peito

Ao ouvir o grito de quem teve o peito rasgado na hora

A varinha de magia

Cria cápsula

Que protege contra o vento do mundo

Faz parecer ideal voltar todo segundo

Mas tudo que foi

Está seco

E mesmo que com marcas,

Alguém até olha,

Mas ninguém repara

Não muda, não limpa

Tudo que foi

Fica como foi

Frio, seco como o sangue na porta

Escrita como história morta