AUTOEXÍLIO
Roo as unhas curtas. Estalo os ossos que posso.
Contorço os músculos. Rodo a bacia e não dobro
as angústias cervicais. Cruzo as mãos. Transpiro
o sal das horas e da brasa desse calor opressivo...
Desde que fui embora de mim mesmo, preparo
um poema fugidio quase avesso a ser cortejado;
não senta na mesa do poeta e não existe de fato.
Desde que nunca atingi lugar nenhum, no bagaço
do cotidiano, a poesia não abençoa o meu traço,
não aloja-se nos porões escuros por onde passo,
nem nos claros, pois sei que está no vento rápido
do elixir rosáceo de uma aurora boreal do espaço.
Enquanto reviro os miolos, mil medos são escritos.
Somo mil arrependimentos. E dois mil calafrios...