Falar
O mundo vai acabar.
e depois do mundo, os óculos de estudo
[sobre a mesa.
e depois da mesa, o Homem
feito de despojos e cacos de vidro:
este Homem acabará!
é imperativo, apesar
falar das lutas
que de há pouco calava os homens.
das cidades anteriores
nós diremos simplesmente:
[-fáceis diamantes, se tanto!...
dos luzeiros da ciência, a pena de outrora
agora
a flor cega que brotou no escuro...
o céu engolido sem foco...
a mulher do povo, caminhante
[sub-reptícia...
inútil toda vigília! acabará
num sono profundo.
ou na explosão do tambor cheio de gasolina.
não obstante é vital falar;
da mão que precede a cópula,
do gesto livre, impensado
[a culpa ainda por nascer...
falar-lhes!
antes que a árvore do desespero
[em chamas
com um estrondo nos pilhe.
falar e ser anterior ao átomo
(ao átomo desabado!)
à parede ultrapassada
secundada por uma estrutura
[fantasma...
o curto ruído é a Suprema Luz!
o calçado feminino prolixo,
o bater ritmado dos dedos na caixa...
uma língua humana, talvez canina
rodopiante e tresloucada...
mas uma língua!
(uma língua é para um sobrevivente
depois de tudo...)
falar das pedras! das diásporas! das filhas!
e enfim saber-lhes
como se no peito apocaliptico
batesse um ouvido.