UM PÁSSARO SEM SOMBRA

Árvore de estranha copa, a parabólica

Impõe-se entre os prédios de cimento.

Não tem galhos a tremerem contra o vento,

É frondosa pitangueira insólita.

Um pássaro de canto verdadeiro

Repousa nela o corpo - pluma e pena -

E nada lhe devolve a pobre antena,

Nem sombra rala ao sol do dia inteiro.

No interior das casas, a TV

Engana os olhos cândidos do povo:

Não diz que cada dia é um palco novo

E há pássaros pedindo pra viver.

Um grito de socorro em nós se estira,

Clamando o espaço anil da liberdade:

É um pássaro e está preso na cidade,

Pousado numa sombra de mentira.

JUAREZ MACHADO DE FARIAS
Enviado por JUAREZ MACHADO DE FARIAS em 01/11/2005
Código do texto: T66218