UM PÁSSARO SEM SOMBRA
Árvore de estranha copa, a parabólica
Impõe-se entre os prédios de cimento.
Não tem galhos a tremerem contra o vento,
É frondosa pitangueira insólita.
Um pássaro de canto verdadeiro
Repousa nela o corpo - pluma e pena -
E nada lhe devolve a pobre antena,
Nem sombra rala ao sol do dia inteiro.
No interior das casas, a TV
Engana os olhos cândidos do povo:
Não diz que cada dia é um palco novo
E há pássaros pedindo pra viver.
Um grito de socorro em nós se estira,
Clamando o espaço anil da liberdade:
É um pássaro e está preso na cidade,
Pousado numa sombra de mentira.