Nem sei se haverá poesia amanhã

encostada na beira do caderno

na lida da palavra diária

dessa estúpida intimidade de juntar o nada

diacho que hoje cada sílaba

era tempero de abismo

cada vírgula arranha o térreo do corte

vão-se os segundos olhando a tonalidade de primavera

que tem às vezes um verso

chorando na solidão das linhas

tão melhor que a minha (de festim)

eu que sou tão amiga do meu peito

pareço que morro

de não ter a cumplicidade da tinta

só o percurso das nuvens

se formam em minhas mãos

no mundo, as horas brincam distraídas

num eco, sufoco minha fala

choro e pranteio o caderno

picadinha junto ao verbo

minto um universo

... nem sei se haverá poesia amanhã

Vania Lopez
Enviado por Vania Lopez em 12/04/2019
Código do texto: T6622045
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