UNIPLURAL — A POESIA

Eu sou a poesia. Nunca o poema. A dita cuja fina,

difícil, intempestiva e que, silenciosa, se aproxima

na velocidade supersônica desse tal estranhamento,

quando você não é mais o dono de seu movimento.

Posso ser o sal da sopa de letrinhas na terra faminta.

Não sou obrigatória, porque não há outra melhor saída.

Mui raramente resolvo me insinuar para o poeta e dispo

a alma desinibida. Totalmente Demais é a minha cantiga.

Dou na rua ou na academia. Preciso, pois, de um sentido

aflito à magia do humano masculino, feminino ou infinito.

Eu sou a poesia. Um drag furta-cor da madrugada mista.

A aurora do ocaso. O ocaso da aurora. A louca varrida.

Eu sou a poesia. O almíscar cru que disfarça a maresia.

Alguém que está e você nem desconfia. Eu sou a poesia.