Resquício

Não sei se resto

Se sobra algo

Do que levo.

Não sei se peso

Se controlo

Se jogo para fora

do barco,

Que já está certo,

Ciente do naufrágio.

Não sei se largo as roupas

pelo caminho

Roupas que me vestem

Peso fora

Frio dentro

Sem direito ao café quente

Sem quente

Gelo junto

Com tudo que resta.

Não resto,

Menos agora do que ontem.

Mais leve em Kg e certezas

Não sei volto pra pegar

Ás vezes até olho

Como quem paquera

Mas tímido hesito em tocar.

Largo

Passos largos

Evitando as linhas

Entre cada paralelepípedo

Passos não firmes

Mas dados as mãos

A quem só pensa em ir

Deixando pedaços de roupas

E peles que se prenderam

Entre os pregos das paredes encontradas.

Rastro de sangue, suor e de choro.

Resto do que sou

Sobrou e continuou

Dando passos largos

Decorando caminhos

Nunca mais revisitados

Resto, sobra

Como água barrenta

Que passa em filtro

Só que não saio limpo

Saio menos em quantidade

Saio resto.