TODA SOMBRA NASCE AO PÉ DO TRONCO

cínico,

o então amigo,

falou-lhe com cara de nem mais amigo:

— Sombra maldita!..

gastou paixão

e um quase amor,

roubou-lhe um relógio

e algumas horas, à exaustão,

perdeu pedras, pontos, paradas,

o ônibus a caminho rumo à terra dos ajuntados

repentinamente,

por falta de sol ou de sombra,

[sós e juntos]

seguirão casados em suas vidas de solteiro...

gastou olhares

e uma quase lágrima,

roubou-lhe a saliva da fala,

a faca cravada num pé de bananeira,

perdeu o respeito, a Rita, o recado, a receita,

o bolo de noiva enfeitado de patéticos bonequinhos

uma hora, fatalmente, há de chegar,

[pouco importa a hora]

onde os cínicos

darão as costas para o que resta das costas:

casados

em vidas de solteiro

indispensável será uma das luas

para levar um dos cínicos no sentido anti-horário

do talvez amor ao absurdo:

— Sombra maldita!...