POEMA DO ADEUS
Durante toda a vida, caminhei sobre espinhos
Que feriram os meus pés
E fizeram sangrar a minha alma
Perecia minha vida
Em incansáveis torturas e lamentos silenciosos
No caminho estavas, perdido talvez
Ofereceste-me o ombro
Ouviste o meu silêncio e comigo choraste
Carregaste-me nos braços
Amparaste-me num abraço
Deste a mim uma sobre vida
Tentando dar sentido ao que perdido estava
Não lamentes por não teres sentido amor
Eu também não senti
Não era mesmo para ser amor, mas sim, amparo
Quando as minhas lembranças, se forem apagando de ti
Apenas olhes para o meu retrato, já amarelado pelo tempo
Pendurado, esquecido, numa parede qualquer
E vejas o quanto meu olhar era triste
Os espinhos da vida frustraram-me
Meu coração tornou-se frio
E se aninhou num quarto escuro
Não viste que chorei?
Não, não viste… estava escuro
Eu não tinha luz interior
Tiraste os espinhos que feriam os meus pés
No entanto, ficaram cicatrizes na alma
Que vez ou outra, insistem em sangrar
Trazendo de volta pesadelos passados
Do quarto triste e escuro, voei
Sem dizer-te adeus
Apenas o som desesperado
Do bater de asas em busca do céu.