Fornalha
acordar o sol com poemas
adormecer e fazer amor com poemas
dividir e ocultar com poemas
com poemas pegar trens, aviões, motos, barcos, pedras e pães
voar pela grama verde rastejando poemas
perfurar o leito dos rios com poemas de minhocas
beijar, padecer, empalidecer com poemas de saudade
pelos poemas de morte visitar os entes mais amados
acariciar os pêlos com pentes e dedos de poemas
com poemas incolores afetar as mágoas mais antigas
no café da manhã esquentar poemas amargos
no salão de dança encorpar as pernas com pupilas ameaçadas de poemas
na selva urbana ou na selva indígena desenhar poemas pelo asfalto e pela terra
poemas musicais para os festivais de inferno
poemas infernais para corpos inertes
pela estrada de barro poemas herbívoros
pela caçada bestial poemas de sangue
e quando todas as coisas estiverem assentadas e felizes
um poema de ausência
para que a paz possa reinar sem sílabas