Fornalha

acordar o sol com poemas

adormecer e fazer amor com poemas

dividir e ocultar com poemas

com poemas pegar trens, aviões, motos, barcos, pedras e pães

voar pela grama verde rastejando poemas

perfurar o leito dos rios com poemas de minhocas

beijar, padecer, empalidecer com poemas de saudade

pelos poemas de morte visitar os entes mais amados

acariciar os pêlos com pentes e dedos de poemas

com poemas incolores afetar as mágoas mais antigas

no café da manhã esquentar poemas amargos

no salão de dança encorpar as pernas com pupilas ameaçadas de poemas

na selva urbana ou na selva indígena desenhar poemas pelo asfalto e pela terra

poemas musicais para os festivais de inferno

poemas infernais para corpos inertes

pela estrada de barro poemas herbívoros

pela caçada bestial poemas de sangue

e quando todas as coisas estiverem assentadas e felizes

um poema de ausência

para que a paz possa reinar sem sílabas

Toya Libânio
Enviado por Toya Libânio em 20/05/2019
Código do texto: T6651568
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