ROSTOS

Vejo rostos nos pedaços do quintal antigo.

E estão postos por ali na argamassa cinza,

parados sobre o silêncio vindo da esquina

— dialogam mudos, amigos ou inimigos,

entre o infinito do horizonte e o raiar do dia.

Vejo rostos no piso e também nas harpias

— helicópteros das horas atoladas na rotina

opressiva dos ofícios e dos órfãos da poesia.

Vejo os rostos. Elegi três de vários que conheci.

Eles me dizem baixo — no dialeto dos ladrilhos —

que são imóveis só de corpo, mas não de espírito

e navegam nas estrelas da madrugada, no absinto

dominante da noite ametista. Vejo rostos e os batizo

na corrente enfumaçada da nicotina do meu destino