A besta

A besta por enquanto

Permanece em silêncio

Mas sinto seus dedos

Gelados e úmidos

Movendo-se em meu peito

Em minhas costas

Em minhas pernas

Em meu sorriso

Preparando-se para atacar

Alimentando-se de minhas falhas

Bebendo de minhas lágrimas

Eu tento

Em minha patética sobrevivência

Encontrar uma saída

Domesticar essa coisa

Mas ela apenas sorri

De seu canto escuro

E eu me encolho

Finalmente me rendo

Permito que ela tome o controle

E choque olhos inocentes

Com a maldade dos mais fundos

Poços do inferno

Eu sou a besta

A besta sou eu

E o que existe além dela

É fraqueza

Uma falta de convicção

E um constante apelo

Pelo sofrimento

Ações mutiladas

Orações vazias

Amor ausente

E correntes de ferro

Em volta da verdade

Tudo aquilo que odeio

Norteando uma busca absurda

Onde o que se encontra no final

É apenas uma resignada inaptidão

Diante de tudo o que representa

A razão da existência