Transposição
Minha casca quebra
Em mil pequenos
Pedaços afiados,
Abdico meus braços,
Descarto minhas pernas
E concebo minhas asas.
A luz da tarde
Reflete a tonalidade
Escarlate profunda
Na transparência
De meu casulo.
Sementes de palavras
Florescem e são cultivadas
Em consequências e em
Presentes que dou a mim
Em diferentes partes
De meu tempo fugaz.
Apenas olho em encanto,
Curiosidade e dúvida
Para o centro e as margens
Deste espelho que muda
A imagem de seu observador
A cada segundo
Que me escapa
E me consome.
Vai-se a infantilidade,
Fica aqui a tolice
Como cicatriz
Desta criança confusa.
Maduro à beira
Da podridão,
Perco o sabor
Deste fruto uma vez
Doce e azedo.
A natureza teve seu papel,
Uma nova poesia se abriu
Como o sorriso de um
Girassol ao auge
De uma disposição luminosa.
Do oxigênio que esvai
Até esvaziar os pulmões
Pela a antecipação
De viver cada passo
Dado no solo desconhecido
Em que vago por uma
Ambígua razão.
Personalidades como máscaras,
Provando e reprovando,
Trocando e me perdendo
Em qual delas estou usando.
Ser ou não ser
É apenas uma das
Incontáveis questões
Incondicionais e indistintas.
Por agora deitado
Na solidão como um porto seguro,
Vendo as ondas selvagens
E tentando mesurar o oceano
Além de seu visível fim
Encostado às nuvens
Onde mergulha a lua.
Cisne amargurado
Perdendo suas penas
E vendo a ilusão
Que projetava
Toda a beleza mentirosa
Atrás da incapacidade
De enxergar sua feiura.
Mudanças de clima
Alterando as cores
De minha natureza
Inconsistente e histérica.
Vem chuva,
Vem arco-íris,
Vem solstício,
Vem noite,
Vem amanhecer.
Fazendo encolher
A criança perdida
Em seus próprios braços
E no conforto de
Promessas impossíveis
Que fazem da transposição
Algo aceitável entre
Abandonos e chegadas súbitas.
Aceitação veio
Na última das
Manifestações sentimentais,
Em meio a tanta negação
Que me fez esquecer de que
Após tudo o que se passou
Está na hora de crescer.