Engavetado
Sentado olhando os papéis
Velhos guardados
Amontoados
Por quem sente preguiça
De ressignificá-los
Um a um
Sentado folheando
Redescobrindo sensações
De um antes tão distante
Chorando ao ler cartas de amores
Passados, enterrados
Sentindo os cheiros dos momentos
Lembrados
Remontando cenas de toques sentidos
Rindo ao ler frases soltas
Vergonhas passadas
Incoerência de fala
Revisitando parte da vida
Que ficou atrás
Parte que criou a do presente
Que por sua vez cria a do futuro.
Jogou parte fora
Como se anulasse
Rasgou dezenas de escritas
Provas, anotações, cartas
Envelopes, desenhos, fotos
Como um mosaico
Do passado
Foram cortados, picotados, amassados
Jogados no lixo
Como passado enterrado
História partida, rejeitada, esquecida
Parte apagada
Ao menos em objetos
Os gestos, cores, sons, sabores
Permanecem engavetados
Na memória da qual não se faxina
Não se apaga
Não termina.
Guardados e às vezes até bloqueados
Mas nunca extintos como os papéis queimados.
#carolescrevendocoisas