Ah, esse meu paludismo inefável...

Amarelo desdenhoso esses dias meus

Que passam sem sequer um adeus

Icterício projeto de gente

Uso os versos como chicotadas que não doem

Tal como ver sexo anal em site de pornografia

Mas é tanta burocracia

Que eu comecei a comer papel no almoço de domingo

Nada mais vergonhoso que usar um bidê

Não me diga que você não sente aquela pontinha

Nunca tomei um gole de aguardente

Minha garganta é seca de melancolia

Queria outonos perto de natais

Folhas caindo e frio nos carnavais

Presentes e ovos de páscoa dados pelos meus pais

Escapei de um destino enfiado em canaviais

Escrevendo mais errado e votando em boçais

Meu voto é sempre nulo

Minha nação de genes e bactérias e orgulhos

Delirante, mas a temperatura está ok

É esse meu mundo, minha nave espacial

Eu sou um etê

Vendo tevê

Com macacos especializados

Em nos forçar o dedo no nariz

E o coçar do saco

Num dia qualquer em que mais vale o sofá e os pés pro alto

Vendo a vida passar sem sentir

Se é alienado ou se é apenas este pirado que devaneia

Até ficar tonto

Que cai risonho, babando no chão quente de vergonha

Caí até acordar em Minas

Nessa selva de igrejas velhas

E escrever este poeminha que esqueci de apagar