Quero meu AMH com todos os As
Porque é moenda também é silo a palavra,
escrever e ler poesia é exercício de corte costura.
Um verbo solto projeta sombra em movimento
no espelho líquido da inconstância,
suas cores tingem a aurora
e a aurora tinge minhas mãos
de um rosa florido sobre as cinzas da euforia.
Onde ficou a força da última paixão inesquecível?
Essa velocidade cruel das mídias não estabiliza
o salto dado pelo meu verso; desisto, logo sinto.
É no papel que rascunho alvorecer o inesperado.
De mansinho amor ocupa lugar e faz esquecer.
O que jamais retorna está posto, novo de novo.
O ser é véspera, obra interminável à espera de alívio,
quem tem na mão uma rosa que atire a primeira cor.
Quero meu AMH com todos os As,
repleto, completo - do silêncio a flor.
Que as flores encham os olhos de beleza
e nos dê a satisfação de que o cuidado valeu a pena.
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Baltazar Gonçalves