CARCOMA CENTRAL
Entrei no hospital dos mortos para cuidar de outra vida.
Em todos os cantos brancos há um éter que predomina.
A cena da miséria humana na Praça da Cruz Vermelha,
onde chinelos são travesseiros e as feridas, purulentas.
Descubro os corredores proibidos, casa da fumaça bendita.
Vou por lá e por aqui. Olho os olhares entre as enfermarias
silenciosas de um silêncio dentro das pausas dos gemidos.
Miro o Cristo lilás. E as pessoas nos apartamentos mínimos
do centro do Rio. Os sobrados e a penumbra quase acesa.
Os fantasmas perambulam pelos becos fétidos da ladeira.
Homens de mulher exaltam seus pecados e bebem cerveja
em velhos copos americanos embaçados. A carreira feita.
A luz laranja da esquina. O céu roxo brilhante da madrugada.
Um roça no outro na Coroa. Vejo a Providência logo de cara.