TEMPO DE SORTILÉGIO * Traço de união

Escavo os subterrâneos da ausência

em busca de vestígios e de escombros

que jazem nos covais da decadência,

ornados de mistérios e de assombros…

Ossadas que me dizem ser o nada

que resta do que foi vivido outrora…

Memória sem memória, abandonada,

e que nenhuma lágrima hoje chora…

Escavo e não encontro nem um grito,

um eco de algum ai aqui que diga

eu sou de ti, ainda que proscrito,

a génese perdida, a mais antiga…

E não me deves nada, nem a prece

que no recolhimento se murmura…

Em ti, apenas, sou quem permanece,

quem vai contigo, quem contigo dura…

Agora que de mim não há mais nada,

pára de procurar --- já tudo viste.

E cumpre-te semente germinada,

que tudo o que já foi em ti existe…

Atónito, descubro que Sibila

me trouxe a mítica revelação:

que nem a morte que nos aniquila,

destrói o nosso traço de união.

José-Augusto de Carvalho

19 de Junho de 2019.

Alentejo * Portugal

José Augusto de Carvalho
Enviado por José Augusto de Carvalho em 20/06/2019
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