GOTAS DE CAIPIROSCAS SOLITÁRIAS

Oh vida,

Tentas-me de novo a resistência...

Até quando insistirás em ser-me assim tão desafiadora?

E por que não ousar dizer ingrata?

Trazes-me do cosmos mais longínquo e d'outros cantos mais comuns

Alma, lembranças, desejos, poesia, semideuses, encantos...

E levas-me assim, bruscamente, como castigo,

Pelo mero deslize danoso de eventuais caipiroscas,

Em uma noite que obscureceu meu tempo.

Deixai-me, portanto, amargurar meu medo de ser pleno

Priva-me então de circunstancialidades que fascinem,

Mas não me fruste a vontade de ser a minha própria poesia;

Leva-me de volta, se assim o queres, ou deixa-me só, diante do mundo.

Mas não me forces a dar as costas ao horizonte, a ignorar em meu pranto

Um sol qualquer num amanhã que insista em clarear-me a realidade.