DESABAFOS DE UMA ÁRVORE

Não lembro direito como nasci aqui,

Se fui plantada ou o vento me trouxe.

Mas, sei que sozinha aqui cresci.

Num imenso e grande campo, sem afrouxe.

No início eu lembro, de uma abundante mata.

E só muito longe, eu podia outras árvores avistar.

Apenas, uma imensidão de verde, em minha volta.

Sentia solidão, pois não tinha ninguém para parolar.

Quando pequeninha, às vezes, muito frio, eu sentia.

E então, o vento forte me batia, me deixando aflita.

Mas, sempre que a chuva vinha, uma sensação boa me envolvia,

E me sentia amada, pois suas gotas me acariciavam intimista.

Não tenho ideia de quantos anos se passaram,

Só sei que vi ao meu redor, estradas se abrirem,

O meu espaço diminuir, e com o progresso chegaram.

E muitas casas próximas, as pessoas construírem.

Relembro de outrora em que crianças brincando,

Correndo ao meu redor, rindo sem parar,

E depois na minha sombra encostando,

E com alegria, ficavam do meu lado a descansar.

Dos casais apaixonados, que sob minha copa, riam.

Se declaravam, trocando juras que vinham do coração.

E por fim, se abraçavam, e próximo a mim deitavam,

E ficavam, o céu a admirar, cheios de empolgação.

Lembro dos pássaros que em mim faziam ninho,

Nos meus galhos pousavam, e cantavam com esplendor,

E agora são escassos, e faz tanta falta, o burburinho.

Pois o canto deles, me embevecia com emoção e calor.

Faz tanto tempo que parada aqui estou a olhar,

Só vendo as coisas passarem, como raios, bem rápido.

E eu só posso ficar a assistir, e tudo admirar,

E bate uma tristeza, que deixa meu âmago destruído.

Gosto de ouvir quando os pássaros, falam sobre o mundo,

De quanto é belo, das variedades de climas e paragens,

Dos rios, lagos e oceanos que são tão profundos.

Dos tipos de árvores que eles veem em suas viagens.

Mas, esses relatos me entristecem, pois daqui não saio.

Estou presa, minhas raízes me seguram com força.

Vivo numa prisão ao ar livre, me bate um deslaio.

Queria poder dessa vida, levar outro tipo de lembrança.

Mas, assim é a vida, e temos que nos acostumar.

Não podemos ter tudo, às vezes temos que nos condizer.

E tem tantos, que podem sair por aí, sem rumo a vagar.

No entanto, preferem no mesmo lugar sempre permanecer.

Sendo assim, só posso ficar, e o meu tempo aguardar terminar.

E fazer que as minhas memórias, possam vir a muitos alegrar.

Noélia Alves Nobre
Enviado por Noélia Alves Nobre em 29/06/2019
Código do texto: T6684237
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