CIDADE NOTURNA
Chove intensamente após longa estiagem.
Ruas enlameadas entrecortam-se
como tesouras no cio.
Carros em desespero avançam
em meio à tormenta
fazendo espraiar pelas calçadas
a espuma do mar fictício nascido
das águas pluviais.
Pressinto a babugem que em instantes
tocará meus sapatos.
Em pensamentos vislumbro
uma pequena baía de areias brancas
e quentadas ao sol de um Pacífico Sul.
Aos goles o imenso coração de concreto
vai haurindo os últimos instantes
da chuva.
A cidade e sua indiferença monumental
Me espreita pelos candelabros de luz.
Maior que ela o meu espírito relutante.
* * *
Goiânia, 25 set 2007.