"Mil Anos de Solidão"

Mil Anos de Solidão

Observo uma aranha

No canto da porta da cela

Do lado oposto da janela

Onde o sol não se assanha

Tece sua teia como uma velha

Goteja no teto da caverna

Formando imensas estalactites

No domingo à tarde

O porteiro do prédio cochila

E o rádio de pilha centelha

No ar, flores de cemitério

Nenhum silêncio é interrompido

Orquestra de trompetes na memória

Atormentam os meus sentidos

O tímido peito arfa

miro o resto de cachaça na garrafa

alcoólatra canalha

E uma formiga carrega sua folha

A vista falha

Mas, no teto surge mais uma bolha

E o bolor lembra o tempo estragado

Enfim, a tarde é assassinada

A noite morre asfixiada

mas os olhos estão vidrados.

(Sugestão:Ouçam "Years of Solitude" de Astor Piazzolla)