Manchas nos pés

Acho que posso ver meu reflexo

Se olhar bem para meus pés

Em cada pedra que topei

De cada passo que andei

Não por acaso os vejo em fragmentos

Não não sou esse tipo de esquizofrênico

Mas sou composto de vários cacos entremeados

Onde melindre se perde em âmago

Coerência em meandro

E no final tudo parece primavera

Talvez seja porque sou muito novo

Trato para que meus olhos se surpreendam sempre de ver o novo

Mas não

Não sou nem de perto o mais sábio

Talvez só um andarilho ferido

Que mal saiu de casa

E já cortou os pés

Se não for forte me despedaço

Aí olharia para cada reflexo meu no asfalto

Uns em sépia outros digitais

Não sei quais são ou não reais

Por certo todos devem ser

Enquanto eu acreditar que são

Por fim vou olhar de novo para meus pés

E ver como cada calo mudou meu deâmbulo

Para no final

Ter que a aprender de novo não a andar

Mas dançar para meu próprio recital

Luíc Araújo
Enviado por Luíc Araújo em 15/07/2019
Reeditado em 15/07/2019
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