AUSÊNCIA

Estou perdido em meus incêndios,

e seu olhar cai sobre mim

como o ruído da chuva.

Salgado Maranhão, em Amada.

O cabimento do amor descabido na entorse

dos músculos que a sua ausência intensifica

— um amargor reunido, a essência das horas

invertidas, o antirrelógio de uma pausa consumida.

Estou esquecido na geografia hostil e montanhosa

dessa asfixia rarefeita que a sua pele distante fabrica,

na secura do mundo preto e branco que distorce

as vontades em centelhas apagadas e destemidas.

Na horta vazia do meu quintal sem metro quadrado,

espero uma brisa quente, entre o chão e o desespero,

que traga no olho da rajada, o unguento dos seus beijos.

Estou perdido sem a cartografia do seu colo. Internado

no leito frio de um pesadelo escuro que nunca se evade.

Na minha veia não tem mais sangue. Só corre saudade.