A queda dos mortos

Não se cansam.

Os desgraçados simplesmente não se cansam da mediocridade

e se afundam nela

como porcos quase inocentes rindo na lama.

Seus olhos são tão mofados quanto os seus poemas gélidos.

Eles, em sua totalidade, são como uma religião sacana ou

alguma espécie de seita

em que a reza diária é tomar umas cervejas e reescrever, inescrupulosamente,

poemas famosos de algum autor que seja cool e infeliz o suficiente

para ser imitado ou ter os seus versos expostos como medalhas

em perfis do Facebook.

Extermine as redes sociais

e veja o esforço de todos os dois mil e poucos anos em que

engatinhamos até chegar aqui, indo pelo ralo

junto com mijo e cabelo velho.

Eles não se cansam

nunca se cansam.

Continuam, pois querem saltar aos olhos,

querem a salvação através dessa

acirrada orgia cibernética sem sucesso.

Sempre sem sucesso.

É realmente tão difícil entender

que não precisamos

de um novo Miller,

um novo Rimbaud, Céline, Pessoa, Carlos Drummond,

um novo Dostoiévski, Byron, Hamsum,

Lovecraft, Deus, Kerouac

e muito menos de um novo Bukowski?

A jogada deles já foi feita,

as suas moedas já foram lançadas para o alto

e as suas apostas já se encerraram.

Seus gritos e risadas já foram ouvidos

e suas lágrimas secaram.

Eles não precisam desses versos nebulosos e

nem dessas fotos corroídas pelo tédio de mentes preguiçosas.

Eles já se foram.

Estamos sós,

e a poesia,

pulsante e sangrenta,

essa poesia,

não pode ser escrita

pelas mãos e mentes dos mortos.

O Bêbado
Enviado por O Bêbado em 22/07/2019
Reeditado em 22/07/2019
Código do texto: T6701517
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