da importância do gozo
o pão é pouco
e a esperança não está em nenhum porto
nossa sopa esfriou no frio de agosto
o vinho perdeu a cor e o sal o gosto
o sussurro virou esporro
entrou por um ouvido e saiu pelo outro
ainda ouço os espoucos
e o homem louco e ganancioso
com seus ternos rotos
e sua cara de mau agouro
junto com seu séquito de homens toscos
quiseram confiscar meu gozo
apagar meu sorriso
pobres homens tolos com seus pensamentos insossos
não lhes ocorre o gosto de gozar
nem o sabor da verdade sorvida
de uma boca, aos poucos
pobres homens moucos
que trocam abraços por socos
que das frutas não diferenciam polpa de caroço
vingue-mo-nos deles todos
fazendo da lida um ato gozoso
gozem a vida, gozem o gozo
gozem na cara de quem fez muxoxos
gozem com velhos e moços
gozem com as mulheres, aos jorros
gozem com os homens sem pressa e sem dolo
gozem dentro, fora, no entorno
gozem na rua, em casa ou na frieza de um calabouço
sozinho ou acompanhado ou no meio de um aeroporto
gozem rindo, chorando, gozem feito doidos
abram a boca e mostrem os dentes
riam, só riam, riam de si e dos outros
riam um riso frouxo
joguem a cabeça pra trás
soltem o pescoço
tombem o corpo de leve
relevem, o comentário maldoso
deixem que passem os meio-tolos, meio-tontos, os absortos
sei que a vida é séria e pede pressa mas não se esqueçam da importância do gozo