Sobre prematuridade e bicos alheios

Em tempos sombrios

Em que se legitima a morte de indígenas

De pobres, pretos e periférios

Precisamos ser fênix, gavião

É gavião e fênix que precisamos ser

Indígenas, pretos, pobres e periféricos sempre morreram antes do dia

Antes da hora

Mortes prematuras, cheia de agruras

Morreram antes da hora

Assassinados por quem carregam fuzis na mão e gelo dentro do peito

O único gelo que mesmo junto do fogo, não derrete

Gelo mantido pelo discurso da comunicação de massa

Gelo mantido pelo desejo da logomarca poderosa

Poderosa, mas só tem dinheiro

Nada mais

Gente mancomunada com o poder mercantil, quase sutil

Gente fortalecida pelo discurso da opressão

Gente que cria bicos ferozes

Que arranca dos gaviões e das fênix

Também prematuramente

Suas penas e unhas

Gritamos, sofremos

Olhos esbulhadados de susto

A cada golpe, a cada voto em nome da família, que só humilha

Humilha e coloniza ainda mais, aquele que nem descolonizado é

Aquele que não venceu a escravidão, aquele que lambe botas

Esses tais, que nem fogo derrete o gelo que tem no peito

Que vocifera ódio, que destila veneno, podem vir

Venham, vocês, com seus bicos alheios

Arrancar prematuramente nossas penas e unhas

Gente prematura também sobrevive e guerreia

Gente prematura aguenta, gente prematura enfrenta.