Coro de sonhadores
De leveza plumosa
Flutuam de mim
Pensamentos até
O rumo ambíguo
Do dócil vento
Que os transportam
Para bem longe.
Não interrompa
Com protestos,
Apenas espere
Que as palavras
Falem por si
Mesmas sem que
Tenham de relutar
Contra milhares de poréns.
Peço-lhe que
Somente desta vez
Não utilize
A lógica como
O silêncio que
Ameace as melodias.
Pois agora tento
Reconhecer
A afinação de minha voz
Entre infinitas
Idênticas outras.
Caçando minhas
Ondas sonoras
Antes que se percam
E se fadem a serem
Meras contribuintes
A este coro de desamparo.
Enquanto cantamos
Somente aquilo
O que nos é desconhecido,
Fingimos que um dia
Sentimos o que
Escrevemos a ser
Nosso próprio canto.
Deite-se e ouça
Como são declamadas
As frustrações,
Sente-se e preste
A atenção merecida
Em como fluem
Suas melancolias
Em perfeitas harmonias.
A plateia é repleta
De ondas e ondas
De críticos dementes
Que fixam-se a encontrar
Razões que propositem
O ápice de suas
Idióticas impaciências.
Mas os sonhadores
Permanecem inatingíveis
Em suas voluntárias
Surdezes e cegueiras
E na habilidade de criar
Seus próprios sentidos.
Até que concretizem
As cores em que
São pintados os devaneios,
Até que perfumem
O aroma que carrega
Flertar com o simples pensar
De tanger a realidade
À sua constância sentimental.
Utilizando da impossibilidade
Como a receita para
Eternizar paixões,
E mesmo assim,
É o espinho mais afiado
Entre a beleza que
Suas pétalas disfarçam.
E numa reverência coletiva
Encerra-se o espetáculo
Ao acordar de seus sonhos,
Deixando-os a absorver
A efêmera lembrança
Que mais intensamente brilha
E que mais rapidamente apaga.