Escrevo
Escrevo pois dói-me o peito, inchado que está com tamanho sofrimento.
Tomo a pena em minhas mãos, trêmulas. E com esforço fixo-a no papel.
E por alguns instantes, penso.
Respiro fundo e sinto o cheiro de incenso queimado penetrar minhas narinas.
Avulsa, aqui no meio do nada. Escrevo.
Busco lembranças, olho pro passado e o que vejo são cinzas.
Amargo é o gosto que sinto na boca, passo a língua nos lábios, fecho os olhos.
Escrevo.
E viver um dia de cada vez para mim é um tormento.
Atormenta-me saber que nada sei.
Não saber de tudo antes que o tudo aconteça.
Viver aqui e não estar aqui.
Sentir essa dor e não poder expurgá-la
Dói-me o peito e por isso escrevo
E aqui confesso meu sofreres
A dor de andar sem direção
De encontrar-se e perder-se em instantes
De não se reconhecer no espelho
E de sentir o medo queimar-me, lentamente.
De enxergar somente o escuro.
O breu
E tudo é impenetrável
Olho para o futuro
E o que vejo são
Simples cinzas
E, insistentemente, escrevo.