Escrevo

Escrevo pois dói-me o peito, inchado que está com tamanho sofrimento.

Tomo a pena em minhas mãos, trêmulas. E com esforço fixo-a no papel.

E por alguns instantes, penso.

Respiro fundo e sinto o cheiro de incenso queimado penetrar minhas narinas.

Avulsa, aqui no meio do nada. Escrevo.

Busco lembranças, olho pro passado e o que vejo são cinzas.

Amargo é o gosto que sinto na boca, passo a língua nos lábios, fecho os olhos.

Escrevo.

E viver um dia de cada vez para mim é um tormento.

Atormenta-me saber que nada sei.

Não saber de tudo antes que o tudo aconteça.

Viver aqui e não estar aqui.

Sentir essa dor e não poder expurgá-la

Dói-me o peito e por isso escrevo

E aqui confesso meu sofreres

A dor de andar sem direção

De encontrar-se e perder-se em instantes

De não se reconhecer no espelho

E de sentir o medo queimar-me, lentamente.

De enxergar somente o escuro.

O breu

E tudo é impenetrável

Olho para o futuro

E o que vejo são

Simples cinzas

E, insistentemente, escrevo.

Mel Pê Mendes
Enviado por Mel Pê Mendes em 28/09/2007
Código do texto: T672413