Roteiro com toque irônico do "diabo"

Tanto tempo sem me deleitar sobre as letras juntadas, que nem me recordava da sensação de limpeza que isso me dava.

Mas são tantos mortos na semana;

Tantas almas sustentando corpos adormecidos,

Com o coração batendo tímido, se esquecendo do motivo.

Tanto ar denso, fumaça inundando um planeta inteiro,

Pintando as árvores de cinza,

Enterrando o verde esperança;

Tanto grito vindo do alto.

Tanto esgoto vomitado,

Sobre quem é raiz da história.

Tanta raíz arrancada à força, tanto canto calado, tanto choro engasgado.

Tanta coisa à beira do precipício,

Ameaçado com o grito, chicote e tesoura.

Tanto coisa embaralhada,

Muita coisa atravessada,

Alterando a ordem do que importa;

Nada importa de fato,

Nem o ar que sustenta em pé,

Nem o pé nativo batido,

Nem som, batuque ou fé.

Tanto de tudo desnudo.

Tantas correntes prometendo liberdade

Renomeando a mentira, cruel.

Com tanta edição que se apresenta como verdade.

Tanta fome maquiada,

Tanta mão calejada,

Sem direito à caneta.

Tanta sangue inocente

Decorando o chão

De quem pisa de salto,

Dentro carro e nunca no asfalto quente

Por causa da correria da guerra.

Tanto nome esquecido.

Tanto olhar para o próprio umbigo.

E a pátria idolatrada, não há quem salve.

E as mãos ensaguentadas, não há quem lave.

O ergues da justiça tem a clava forte,

Pois veja os teus filhos, divididos travando uma luta, cansada, com pena de morte.

São murros em pontas de facas,

Argumentos que já não resolvem nada.

Me distancio do lápis,

Para não compor o tanto,

Que me causa pranto,

Por dor;

Pelo desprezo da inteligência;

Por essa onda que anula a ciência.

Tantas tentativas de justificativas

Até para os tiros disparados.

Tanto apreço pelo passado.

Tantas escoras afiadas

Sobre o peito nu

Do povo, da raíz...

Tantas vozes caladas,

Validando a injustiça.

Muitos olhos abertos só quando convém.

Muitas promessas cumpridas.

Muitos rostos escondidos, de medo ou vergonha.

Muita muro cheio de gente.

Tanto deus, tanto altar, tanto santo juiz

Tão pouca caridade, empatia.

Tanta covardia aplaudida.

As estatísticas subindo e assustando.

Mas muita gente comemorando como gol contra em copa do mundo.

Muito espetáculo armado,

Muita manga e muito pano remendado.

Tanta dor e lamento,

Que meu lápis se perde do papel e deixa pra lá outros tantos e muitos.

Parece roteiro de filme e ou grandes romances do século passado, com um toque irônico do "diabo" no enredo deste ano.

#carolescrevendocoisas