Quatro quatro

Sento-me só, em um café,

para celebrar só

meu aniversário.

Vinte e dois que tinha vinte e dois.

Quarenta que tinha quatro.

Longe de casa, cidade estranha.

Uma torta sedutora, com cajuzinho em cima

e a velha coca-cola,

tentação de quatro décadas.

Hoje ela venceu e se impôs.

E eu cedi, seduzido.

No café ninguém me nota.

A cidade não me nota.

Serve de consolo saber que

Caetano sofreu algo parecido:

nem Petrolina nem Juazeiro

perceberam o ciúme que sentia.

Estarei eu, finalmente, sintonizado com o tempo?

Esse tempo em que cada um é um mundo e o outro é o abismo?

Quase cedo à ideia, mas não!

Não estou só.

Meus ancestrais.

As pessoas que amo.

Amigos que me acompanham.

Todos aniversariam comigo hoje,

porque só sou por que eles também me constroem.

Pacifico-me.

Saboreio a torta, a coca, o instante.

Sei que não sou nada e nem o serei.

O Pessoa já me ensinou isso há muito.

Afinal, num planeta com sete bilhões de gente

o que muda um a mais ou a menos?

Nada.

Mas para mim,

estar vivo

faz toda a diferença.

José Carlos Freire
Enviado por José Carlos Freire em 29/08/2019
Código do texto: T6732324
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.