Quatro quatro
Sento-me só, em um café,
para celebrar só
meu aniversário.
Vinte e dois que tinha vinte e dois.
Quarenta que tinha quatro.
Longe de casa, cidade estranha.
Uma torta sedutora, com cajuzinho em cima
e a velha coca-cola,
tentação de quatro décadas.
Hoje ela venceu e se impôs.
E eu cedi, seduzido.
No café ninguém me nota.
A cidade não me nota.
Serve de consolo saber que
Caetano sofreu algo parecido:
nem Petrolina nem Juazeiro
perceberam o ciúme que sentia.
Estarei eu, finalmente, sintonizado com o tempo?
Esse tempo em que cada um é um mundo e o outro é o abismo?
Quase cedo à ideia, mas não!
Não estou só.
Meus ancestrais.
As pessoas que amo.
Amigos que me acompanham.
Todos aniversariam comigo hoje,
porque só sou por que eles também me constroem.
Pacifico-me.
Saboreio a torta, a coca, o instante.
Sei que não sou nada e nem o serei.
O Pessoa já me ensinou isso há muito.
Afinal, num planeta com sete bilhões de gente
o que muda um a mais ou a menos?
Nada.
Mas para mim,
estar vivo
faz toda a diferença.