Terra mágica

Nos incontáveis dias

De nossa eterna e curta vida

O frescor das flores maceradas

A despertar as manhãs

Nas ruas adormecidas

Nessa terra mágica

Cercada por abismos e espelhos

O doce e viscoso sabor

Do sangue misturado à lama

A poeira carregava os pés

De volta à longa casa

Origem e fim do mundo

Resplandecente, inóspita

Num desespero desvairado

Por percorrer suas pedras

Perder-se na amálgama de suas paredes

Transformar-se em sua história

De um homem só

Reiterado infinitamente

Como palavras soltas

De um texto conhecido

De mulheres incertas

Algumas mães, outras bruxas

Todas santas e fortes

Bordando na pele a vida

Vislumbre espectral

Da perfeição existente

Num canto do mundo

Onde nada sobressalta

Nem fantasia nem realidade

Chuva de pétalas coloridas

Cobrindo fontes, corpos e telhados

Espíritos vivos e seus fantasmas

Povoando ruínas de ninguém

Subversão e remanso

Ciclicamente revividos

Beijos doídos, prantos ardentes

O asco, o terror

O gozo e o amor

O fio dourado

Que leva ao amanhã

Encontra a outra ponta

Reconduzindo o futuro ao passado

Presos entre os quartos da memória

No corredor onde tantas vozes

E caminhos se cruzaram

Neste lugar

Congelado entre o concreto e o contado

O meio termo entre maduros devaneios

E certezas infantis

Para onde partir

E de lá nunca mais sair

Rafaela Alonso
Enviado por Rafaela Alonso em 02/09/2019
Código do texto: T6735799
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