CORROSIVIDADES
Um verso cai na minha testa
feito a cera derretida da vela
ametista e invisível da poesia.
Ela queima e liquefaz a parafina:
seu cheiro de enterro e de esquina.
Um vento voa sobre a minha careca
e seca o jardim de suor que trafega
entre o ampere desse torque elétrico
nas nuvens gordurosas do cérebro:
e tudo o que é pulso passa ao imagético.
Uma úlcera corrói a minha carne vencida
e estoura os miolos vermelhos das vísceras
onde eu guardava um cofre vazio de alegria
no meio dos parafusos do medo e da hipocrisia:
enquanto o corpo se acaba a alma renuncia.