pés no chão

queria uma mulher com os pés no chão

mas ela queria todo céu só pra ela,

enxergaria decência no garoto de antes

a ingenuidade é tão bela,

enxugaria lágrimas do homem de hoje

genuína idade, malícia estampada na tela,

mentiria se adiantasse alguma coisa

mas a mentira adia o inevitável,

ser forte ou ser feliz?

choram os puros de coração,

ter sorte, alguém me diz

quão longe chega uma oração?

batem no teto e voltam

como a fumaça que embaça meu quarto,

batem na tecla e votam

desacreditados na mudança de cenário,

precisamos de água e comida

o resto é só abundância,

quem do amor mais precisa

quando não mais criança?

pena da dor que faz morada em mim,

mande-a procurar um doutor ...

e por favor, deixe-me assim,

pouca rima, vários questionamentos

porca vida, viver de lamentos,

pratos sujos numa cozinha escura,

escuto o mundo, uma, duas ... até o silêncio

onde ouço murmúrios, pegue esse lenço,

um líquido enxugador de prantos

liquidificador de sentimentos,

o barulho que faz essa lata ao abrir

minha forca,

te ver despreguiçando pela manhã

me conforta,

desenhos animados nos assistem

enjoam rápido de nós, somos repetitivos,

a gente age como se entendesse, tipo cachorro

eu e meu outro eu, cachoeiras e uma sativa,

bebendo em postos e molhando o rosto,

quem dera a água limpasse as vistas,

nascemos cegos e morremos do mesmo jeito

pregamos pregos cravados no fundo do peito,

e quanto mais fundo maior a ilusão de bem estar,

conto meus vultos, quantos estão a me acompanhar?

R Lelis
Enviado por R Lelis em 04/09/2019
Reeditado em 16/01/2020
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