Doce Ilusão
Os ponteiros do relógio
desfilam sem parar
por lágrimas descaradas,
risos escancarados
que teimam em incomodar.
Calçadas machucadas
alongam-se a observar
passos rápidos,
sofridos
tentando trafegar.
Não somos
o que já fomos,
o tempo não é também.
Por que atrasar relógios,
se não nos traremos de volta
e nem a mais ninguém?
O tempo fotografa dias
que a lembrança quer guardar
em um cantinho da memória
_ repleto de aflorar _
brincadeiras, fantasias...
cores vivas a cantar.
Doce ilusão
de quem se quer resgatar
da maneira que foi ontem,
se o ontem a se afastar,
leva consigo quem fomos
para nunca mais voltar.