Bailarina

Radiante como sol

Esvoaçante como nuvem

Num clima de plumas envoltas em bruma

Tua leveza dissolve a retidão da coluna

Enquanto semeias almas com teu pólen

Rosa branca desabrochando no palco

Ante o encanto do amor que sobeja contido

No peito que palpita e pára um pouco

Na narina dilatada, na garganta entalada

Na mão suada, no coração partido

No teu passo que flutua

No teu gesto que insinua

Na platéia que é toda tua

O queixo altivo, o ombro recuado

As mãos desfazendo-se em pétalas

Os pés em malabarismos mágicos

Linda, linda... teus passos são versos

Que cordas diáfanas são estas que te sustentam?!

Que brilho é este que irradias?!

Que sortilégio é este que me arrebata?!

Que beleza é esta que me contagia?!

Embalada no vibrar da música

Que no teu parceiro, o ar, ressoa

Flutuas sobre os pés, quase voas

Estrela do norte, brilhante, única

Borboleta radiante

Pétala de rosa solta

A bailar na brisa revolta

Na ribalta de um Sol infante

Borboleta, espírito e leveza

Das pontas dos pés às asas

Voadora alma que encima as casas

No patamar da sua realeza

Flutua nos varais do vento

A saia esvoaçante torvelinha

A coxa dura feito rocha

O queixo empertigado de rainha

Voa borboleta, voa linda

Voa branca, negra, despida

Paira solta sobre o tablado

Salta sem temer descida

Salta da íris dos meus olhos

Embalada nas lágrimas do meu encanto

Penetra lenta na minha alma

Seca, com tuas asas, o meu pranto

Linda bailarina, confesso meu pecado

Não de chorar, a despeito de ser homem

Confesso estar perdido onde os sonhos somem

Confesso, linda borboleta, hoje, ter te amado.

D.S.