NA RUA
A outra calçada me desperta.
Pára a vida sentida. Estanca
o augúrio, muda o momento.
A estranha rua entranha ação
ao pensamento. Enquanto levo-me,
estabeleço um debate entre deuses de aço
em feroz altivez. Motos ciclopes
serpenteiam entre si uma busca
contérmica; doam-me este minuto
hiato, em que, ao correr,
corto o tempo inexistente,
sôfrego de passado,
antibiográfico, esquecível.
Chego do outro lado.
Volto-me intacto ao dia,
e sigo a linha solitária
da sangria, escolhendo opostos,
favorecendo à sina um pacto
incerto e lânguido que me escore.
Dissolvo meu corpo nas ruas da cidade,
antes que outra travessia me devore.
2007