Estados (não apenas) físicos

No ar gelado de agosto eu me fiz rígido

Escuro era o meu lar

Não tinha gosto, porém, eu sentia amargar

Quadrado em cubo, as paredes me fizeram formatar

Convivendo em conjunto mas nunca junto

Paredes grossas limitavam meu transbordar

Teria eu as colocado lá?

A questão não parecia importar

Culpado ou não, não veria o sol brilhar

O céu negro adormecia, absorvendo cada ponto delimitante, cego me fazia. Entorpecido, não sentia: cada muro erguido me distancia

Talvez veria um dia, outros como eu havia

Quando eu conseguisse levar minha essência além do frio que tanto doía

Um dia...

Não percebia, mas diferente do gélido ar que me envolvia, o pai tempo andarilho seria

A estrada por onde as semanas se dividiam entre quente e quente em demasia, pouco ou muito frias trilharia

Me trazendo um destino que eu jamais esperaria

Agora a porta se abria

Enfim eu via

A luz, as grandes paredes, as gotas vindas de cima, antes rígidas, líquidas se faziam

E além dos muros que me continham, havia...

Havia...

Iguais a mim, isso parecia...

“Eu não estava só! Eu não estou só” enfim diria

Mas esse ar morno me abraçando doía

O que eu faria? Eu me desfazia, tão rígido já não me via

E antes eu raciocinaria, agora tempo não havia e eu apenas sentia

Quando levado eu fui em direção a algo que continha

Forma liquida semelhante a mim, de dentro a coloria

Ao mesmo tempo em tanto diferia

E assim conectado eu me tornaria

De amargo a doce eu ia

E o calor já não doía

Sim, por completo eu abandonei a forma rígida e fria

Por que agora eu via, sentia e conectado ao alheio eu seria

Pra sempre, em contato com o que é quente

Nas aguas mornas de janeiro “eu” morria

Pra renascer como conexão.